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São Paulo – Não faltaram surpresas positivas nos dados do PIB (Produto Interno Bruto) do 2° trimestre, divulgados nesta quinta-feira (29) pelo IBGE.

Depois do resultado negativo do primeiro trimestre, bastaria uma nova queda para configurar a volta do país para uma temida recessão técnica.

Mas o dado não só veio na ponta mais otimista do mercado, em 0,4%, como também foi revisado o dado negativo do primeiro trimestre, mostrando que a queda foi menor do que inicialmente divulgada.

O ritmo de crescimento anual é de apenas 1% e vem sobre uma base fraca, já que no mesmo período do ano passado o país vivia o choque da greve dos caminhoneiros. Mas há pontos a comemorar.

Construção

A principal novidade foi a volta da construção civil. O crescimento foi de 2% em comparação com o mesmo período de 2018, o primeiro resultado positivo na base anualizada após 20 quedas consecutivas.

“Foi uma surpresa muito grande e um ponto totalmente fora da curva. O setor está melhorando, mas eu não esperava um número tão elevado”, diz Claudio Considera, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV. 

Especialistas veem um efeito da melhora na confiança no futuro, essencial na decisão de comprar um imóvel, e também o efeito de melhores condições de financiamento com a queda persistente dos juros.

O volume de recursos destinados para financiamentos imobiliários e construção de imóveis atingiu R$ 33,7 bilhões no primeiro semestre deste ano, alta de 33% sobre o mesmo período do ano passado, segundo Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

O resultado do Caged, divulgado há uma semana, mostrou que a construção civil liderou a criação de vagas em julho com saldo de 18.721 postos formais.

“O resultado positivo, aliado aos recentes dados positivos de crédito, pode finalmente indicar uma saída do ‘fundo do poço’ para o setor”, escreve Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores.

Investimento e consumo

Outra surpresa positiva ficou com o investimento, que voltou a subir 3,2% na base trimestral após duas quedas. A taxa de investimento foi de 15,9% do PIB, maior que os 15,3% do mesmo período de 2018. 

Um dos motivos que podem explicar o movimento é que, com a recessão de 2015 e 2016 e a retomada fraca em 2017 e 2018, parques industriais foram se depreciando e agora precisam ser renovados.

“Máquinas e equipamentos vem se recuperando há muito tempo, como se os empresários estivessem investindo para ampliar sua capacidade produtiva e substituir as que já estavam obsoletas”, diz Considera, do Ibre.

Apesar disso, é preciso considerar que houve uma queda violentíssima do investimento durante a recessão, ressalta Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs. 

Há muito chão para retomar, já que o nível de investimento da economia hoje é o mesmo de 11 anos atrás e segue 26% abaixo do pico.

“Dos componentes da demanda, o que ainda é o que mais fraco é o investimento. Não dá pra dizer que estamos num ambiente de grande confiança e retomada”, diz ele.

Um ponto de atenção é o consumo das famílias, responsável por 70% da demanda, e que cresceu apenas 0,3% de abril a junho em relação aos três primeiros meses do ano.

Apesar de ser o décimo avanço seguido em termos dessazonalizados, ele ficou abaixo da média de 0,5% registrada desde que voltou a crescer, no 1º trimestre de 2017.

Futuro

A previsão das consultorias é que com os dados divulgados hoje, caiu a possibilidade da economia crescer menos do que 1% neste ano.

A taxa deve ficar próxima do 1,1% registrado tanto em 2017 quanto em 2018; para 2020, as previsões estão na faixa de 2%.

No campo interno, o atraso e falta de foco do governo Bolsonaro em agendas como a de privatizações e de reformas gera ruídos políticos e instabilidade.

A alta nas queimadas da Amazônia e a reação do governo brasileiro, por exemplo, geraram uma crise diplomática com a França e arriscam uma piora na percepção internacional do agronegócio.

Isso gera riscos para os próximos anos de perdas de exportação e atraso na aprovação de acordos comerciais como aquele com a União Europeia, que foi assinado mas ainda precisa ser ratificado.

“Já temos tantos problemas e o governo está criando novos. Precisamos do investidor estrangeiro e não podemos nos dar ao luxo de desagradar”, diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do IBRE/FGV.

Outro risco vem do cenário externo. A Argentina, nosso terceiro maior parceiro comercial, está vivendo um um agravamento rápido da sua crise e também há o temor de uma nova desaceleração global.

Um dos motivos para isso é guerra comercial entre Estados Unidos e China. Segundo nota divulgada nesta semana pela Fitch Solutions, o Brasil tem sido o maior vencedor da batalha na área agrícola devido à uma maior demanda chinesa pela soja e carne brasileira.

“Quando a onda é boa o investidor coloca dinheiro em qualquer lugar. É difícil crescer com o mundo não ajudando”, diz Silvia. Um bom começo seria ajudarmos o mundo a nos ajudar.

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